terça-feira, setembro 9

El Sistema






Um certo dia, um músico amador, economista e antigo governante da Venezuela, de seu nome António Abreu, lembrou-se que era possível transformar a Arte em instrumento de desenvolvimento social e de construção de melhores cidadãos. E para tal inventou um Programa de Ensino da Música, em parte financiado por privados e que fosse extensivo às camadas mais carenciadas da população.

Centenas de milhares de crianças foram assim retiradas à marginalidade e à miséria através da música clássica. O objectivo era a prevenção de comportamentos criminosos através de uma prática educativa original. Localmente o programa é chamado El Sistema, Sistema Nacional de Orquestras Sinfónicas Infantis e Juvenis. Os resultados obtidos com ele permitiram que se constituíssem duzentas orquestras profissionais actualmente, pelo menos uma em cada Estado da Republica Federativa da Venezuela. Notável realização quando se sabe que no início, em 1975, havia duas orquestras sinfónicas no País…

Plácido Domingo, o célebre tenor, chorou quando ouviu o Concerto da Orquestra Juvenil Simon Bolívar da Venezuela. O Director da Orquestra Filarmónica de Berlim disse que esta experiência era actualmente a mais válida em todo o mundo na divulgação da música clássica. As grandes cadeias informativas televisivas como a CBS, a NBC, a BBC e jornais de referência como o Guardian fizeram eco do sucesso maravilhoso deste programa.

Cerca de 23 países da América Latina e do Caraíbe tentam adoptar programas semelhantes. Crescem as pressões para a introdução de versões de El Sistema na Escócia, Alemanha e Estados Unidos da América.

António Abreu recebeu recentemente, por decisão unânime do júri, o prestigiado prémio Glenn Gould de 50.000 dólares. Gustavo Dudamel, maestro da Orquestra Juvenil Simon Bolívar é, aos 27 anos, convidado para titular da Filarmónica de Los Angeles, uma vedeta imparável no sector.

Quando se vê imagens na Internet de um bairro periférico e empobrecido de Caracas, com crianças de poucos anos transportando a caixa do seu violino, e dirigindo-se para o centro escolar onde aprendem música, das 14 horas às 18 horas, de segunda-feira a sábado, só nos podemos sentir felizes. Afinal há futuro para a humanidade.

Para muitos na Europa e nos Estados Unidos, a Venezuela não era mais do que Hugo Chávez, petróleo ou basebol. Mas esta reconfortante iniciativa educativa, que ganhou já este ano o Prémio Príncipe das Astúrias de Arte, existe porque tem um orçamento este ano de 23 milhões de dólares do governo venezuelano. Mas tem sobretudo, tal como diz a acta do júri deste Prémio, “qualidade artística e uma profunda convicção ética aplicada à melhoria da realidade social”. O que leva à disseminação de El Sistema pelas prisões e o projecto de 500.000 crianças e adolescentes abrangidos em 2015.

in O Progresso de Paredes

2 comentários:

Anónimo disse...

Palmas!

Muito bom.

sem-se-ver disse...

excelente.