segunda-feira, dezembro 3

José Lima, vinte dias em cadeira de rodas e 800 Km



Depois de ter percorrido 800 quilómetros numa cadeira adaptada com pedais e uma espécie de caixa de velocidades, José Lima vestia à chegada a Faro uma camisola amarela, símbolo da sua vitória.

Pelo caminho, encontrou um apoio inesperado, sentiu a solidariedade dos portugueses a cada curva, o que o fez emocionar-se, mas, diz, gostava que essa sensibilidade estivesse também presente nos que ditam os destinos do país.

«Espero que essa sensibilidade esteja também nas esferas superiores, nas pessoas que nos governam», lançou, perante as dezenas de pessoas que o esperavam à porta do Governo Civil, onde estavam várias entidades oficiais.

Com 52 anos e paraplégico desde 1997, depois de esmagado por um elevador que estava a reparar no Ministério das Finanças de Angola, José Lima, licenciado em Electrónica Industrial, quis sobretudo com esta acção combater a injustiça de que diz ser alvo.

«Eu sinto que não tenho justiça em Portugal, os meus direitos são violados todos os dias», denuncia, frisando que além da barreira das acessibilidades há ainda a do emprego, difícil de ultrapassar para quem se move em cadeira de rodas.

Desempregado há três anos, José Lima queixa-se que todas as portas se lhe fecham automaticamente quando se apresenta em qualquer empresa em cadeira de rodas.

«Eu sobrevivo, não vivo», lamenta, reafirmando que os governantes em Portugal «perderam algo pelo caminho», pois nem sempre têm a sensibilidade necessária para lidar com as questões da deficiência.

A secretária de Estado adjunta e da Reabilitação, Idália Moniz, também em Faro para receber José Lima, reconheceu que é preciso proceder a uma mudança de mentalidades e considerou que a viagem do paraplégico foi fundamental para chamar a atenção sobre a temática.

«A sociedade está pouco disponível para coabitar com a diferença», assumiu, realçando a importância da legislação que concede aos grupos de cidadão o poder de denunciar o incumprimento das regras de acessibilidade.

Com um gosto especial pela escrita, José Lima já pensa em contar em livro a sua odisseia pelo país, que, diz, era para ser uma viagem solitária, mas acabou por ser repleta de surpresas e contactos.

«Queria descansar e não tinha tempo», gracejou, afirmando que não trocaria a viagem que fez «por nada» e que estes dias foram as suas verdadeiras férias.

No dia da recepção a José Lima, entrou também em funcionamento no Governo Civil de Faro uma nova plataforma elevatória destinada a transportar pessoas com mobilidade condicionada do rés-do-chão para o primeiro andar.

1 comentário:

Naked Lunch disse...

sempre a bombar...