terça-feira, março 21

Wednesday Book Club 7







Orchidea
Cosey
O suíço Cosey, 53 anos, não é só um dos mais interessantes autores de BD da actualidade é também um dos mais originais, e de uma originalidade modesta, tão apagada que quase não se dá por ela.
De facto, nem o seu traço nem as suas histórias são dados a qualquer espécie de exibicionismo, mas na sua contenção possuem uma extraordinária profundidade e uma atenção aos detalhes gráficos, narrativos, existenciais que só está ao alcance dos eleitos.
Orchidea, álbum de 1990 agora editado entre nós, demonstra-o na perfeição. O livro é uma espécie de road story, onde três irmãos (dois homens, uma mulher, todos eles de alguma forma a ajustarem contas com o seu passado familiar) atravessam a América profunda à procura do pai, com quem pretendem passar o seu aniversário.
Desaparecido do lar onde estava internado, o velho partira com uma jovem à procura de cumprir um sonho antigo: abrir um bar, chamado Orchidea, em pleno deserto.Esta obra demonstra mais uma vez que, no domínio da banda desenhada, é da Europa que vêm alguns dos retratos mais pungentes da América (veja-se os westerns), e este Orchidea poderá facilmente ser considerado o Paris Texas de Cosey - tal como Wenders, o autor suíço (não por acaso discípulo de Derib, criador de Buddy Longway ou de Yakari) é um europeu ocupado em trabalhar o sonho americano, onde cada vinheta é um postal ilustrado do oeste mítico, com horizontes rasgados e carros intermináveis a cortar a paisagem.
Também a nível narrativo Cosey é dotado de um savoir faire inatacável, sendo comovente a forma como aborda a temática da velhice, o sonho de uma juventude não concretizada, e até mesmo a exaltação dos valores familiares sem nunca parecer lamechas.
Apenas com duas obras publicadas em Portugal - Viagem a Itália e agora Orchidea, vai sendo tempo de recuperar as criações de Cosey, demasiado importantes para as continuarmos a ignorar.
in Diário de Notícias, 15/09/03
Histórias de velhice e solidão
João Miguel Tavares

6 comentários:

Naked Lunch disse...

bd é que é...

M.M. disse...

Já agora, uma pergunta: tu gostas de banda desenhada? hehehehe!

merdinhas disse...

Uma das vantagens da BD é que se lê bem e em qualquer lado...e há de facto coisas bestiais.numa ronda com tantos livros os do Book club são sempre boa sugestão...

Camarelli disse...

grande versão do Paris, Texas, aí no sonoro do Carlos Barreto

Jazz Manel disse...

Tenho de confessar que ultimamente só tenho lido livros de bd...falta-me tempo para outras leituras!...

CS disse...

Não sei (quase) nada de BD, mas há desenhos que, mesmo para um leigo, são muito sugestivos.